quinta-feira, novembro 23, 2006

Quentes e letristas.

Eu preciso escrever...
Sinto essa necessidade.
As palavras saltam de mim como línguas de fogo invisíveis e se perdem.
Não sei mais onde posso procurá-las.
A minha velha camarada criatividade,que sempre andava do meu lado de mãos bem dadas com as minhas,anda realmente sumida.
Tomou DORIL,se jogou da minha janela.
Não sei mais onde buscar inspiração.
Repito mentalmente como um mantra: “eu vou superar,é só uma fase ruim”,mais ai depois de repetir isso várias vezes,minha cabeça pesa e eu caio no sono dos cheios de nada para fazer.
Perdendo assim o meu tempo e a minha esperança de expelir algo naquele dia.
Mais eu ainda não perdi a fé na minha camarada,vou me perfumar mais,gradear minhas janelas,cantar uma boa bossa e com caneta e papel em punho vou lembrar de amores antigos,das ruas paradisíacas de algum lugar longe na minha imaginação e do gosto da minha infância.

E se nada vier hoje,me perfumarei e cantarei amanhã também.
E amanhã...
E depois....
E depois também.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Caí na dança

Invasão.
Arrombamento.
Suspense.
Grosseria.
Surpresa.

Não pediu minha permissão.
"não pude evitar; tirou meu ar; fiquei sem chão."

Essas coisas da vida que a gente não escolhe são as que mais me atraem.
Coisas que não se pode prever.
Feito um bale de mascarados,cheio de faces coloridas com lágrimas de vidro por trás.


...ou sorrisos de plumas.

quinta-feira, novembro 09, 2006

Não respondo teus e-mails, e quando respondo sou ríspido, distante, mantenho-me alheio: faz-de-conta que eu te odeio. Te encho de palavras carinhosas, não economizo elogios, me surpreendo de tanto afeto que consigo inventar, sou uma atriz, sou do ramo: faz-de-conta que te amo. Estou sempre olhando pro relógio, sempre enaltecendo os planos que eu tinha e que os outros boicotaram, sempre reclamando que os outros fazem tudo errado: faz-de-conta que dou conta do recado.

Debocho de festas e de roupas glamurosas, não entendo como é que alguém consegue dormir tarde todas as noites, convidados permanentes para baladas na área vip do inferno: faz-de-conta que é felicidade. Choro ao assistir o telejornal, lamento a dor dos outros e passo noites em claro tentando entender corrupções, descasos, tudo o que demonstra o quanto foi desperdiçado meu voto: faz-de-conta que me importo. Jogo uma perna pro alto, a outra pro lado, faço cara de gostosa, os cabelos escorridos no rosto, me retorço, gemo, sussurro, grito e poso: faz-de-conta que eu gozo. Digo que perdôo, ofereço cafezinho, lembro dos bons momentos, digo que os ruins ficaram no passado, que já não lembro de nada, pessoas maduras sabem que toda mágoa é peso morto: faz-de-conta que não sofro.


Cito Aristóteles e Platão, aplaudo ferros retorcidos em galerias de arte, leio poesia concreta, compro telas abstratas, fico fascinada com um arranjo techno para uma música clássica e assisto sem legenda o mais recente filme romeno: faz-de-conta que eu entendo. Tenho todos os ingredientes para um sanduíche inesquecível, a porta da geladeira está lotada de imãs de tele-entrega, mantenho um bar razoavelmente abastecido, um pouco de sal e pimenta na despensa e o fogão tem oito anos mas parece zerinho: faz-de-conta que eu cozinho. Bem-vindo à Disney, o mundo da fantasia, qual é o seu papel? Você pode ser um fantasma que atravessa paredes, ser anão ou ser gigante, um menino prodígio que decorou bem o texto, a criança ingênua que confiou na bruxa, uma sex symbol a espera do seu cowboy: faz-de-conta que não dói.


(Martha Medeiro)