quinta-feira, abril 24, 2008

a saia

era cinturada, tinha uma barra de tecido estampado com minúsculas florzinhas em tons de roxo. na lateral direita dois botões de madrepérola minúsculos. o rodado de toda ela, era de um algodão de um antigo vestido da irmã mais velha. a cor era um alavandado meio gasto. fazia um movimento godê lindo e a própria irmã achou que se parecia com o sino da igrejinha. e quando ela rodava, parecia que do balanço saia um som afinado de sininhos de natal. a barra de baixo era de seda lilás fim-de-tarde, costurado com grandes pontos de linha branca pura. seguiam-se lindas, grossas e brancas pernas de moça, que terminavam delicadas em pezinhos que eu carinhosamente chamava de ' meus lírios '

" isto é bossa-nova, isto é muito natural "

ensaio sobre qualquer coisa 1

da tristeza de não ter marias, nem laurinhas, montei em mim vários retratos de uma tristeza desmilinguida e desconjuntada.
lamentação-ões de um bilhão de coisas que fiz e também daquelas que não tive coragem. mas que devia ter feito.
gotinhas doces e quentinhas dos mesmos inquietos olhos que observam atento o mundo que um dia também já foi rosa e cada vez mais se torna apático ...

daquele mesmo mundaréu que invade a gente, finge que devasta e pede reza.

é tudo triste da porta pra dentro.

" capacete devia era ser no peito "

Hilda Hilst

" fiz 2 poemas a Dionísio "

quarta-feira, abril 16, 2008

paúra

sabe-se lá de onde veio tanta acidez.
vai chegar o dia em que vais querer doer, doer bem forte em alguém.
daí eu vou te mostrar (...) de nada vai ter adiantado tanta verticalidade,
tanta entrega.
se tua insegurança sou eu, tu te aquetas...porque eu sou só paúra.

afinadouro

de mim:
( uma imensidão de imagens em preto e branco e de pensamentos cheios de palavras açucaradas estão da porta para dentro, criando sensações novas que nós sabemos que sempre existiram )
para você.
um grande plano ousado onde casamos as minhas e as suas.um grande plano colorido pelos seus retalhos, que costura palavras e grita ação.
o filme vai ser romântico.

Ritinta

ela refletiu sobre o que tinha,
o que faltava, o que não queria,
o que não prestava.
.
ela se cansou do barulho impregnante da tv da sala,
era a voz fina de Mary dizendo: - te amo, te amo Josh.
.
ela se cansou do silêncio da alma,do oco e do seu grito de ajuda
que não fazia eco.
.
desvencilhou-se do imóvel, do contrato, do documento e
do compromisso.
ganhou um mundo maior do que Iguatu e um desejo de fugir maior
do que o desejo de morrer.
.
a busca circular só começava e o desejo era frenético.
o mundo estranho lhe recebia e ela sorria.
.
cômoda e cansada,
sentada no bar, fumando um ilegal,
ela ouviu uma canção do Roberto e gostou de não ser ninguém.

EM

" é meu desespero - camuflado - de qualquer coisa, você entende. "


bourbon e chet baker, esta tarde

armando lamentou ao som de nina simone

já tem tempo
tu não está vindo
e eu já não sei mais se quero
foram tantos planos e tantas mulheres que passaram por mim
.
nenhuma tinha a tua
nenhuma tinha a nossa
nenhuma era
.
o sol nasce
e vai embora
eu só me canso e não te vejo
.
um cigarro um café
meu sonho
e aquelas tuas pernas
uma caixa de vime guarda boas lembranças de papel
e eu só te espero
e te quero

bilhetinho

o sentimento foi o meu elo perdido entre a razão e o ser, baby. as coisas não fazem mais tanto sentido como antigamente, tudo parece estar ajustado naquela equação: lovemetender lovemetrue. viver o sentido dói na alma, dilacera a palma da mão e te causa rebuliços matinais- tipo - "descoberta do amor romântico". tudo o que é novo, tende para o lado fantástico... parece que morrer de amor é a coisa mais linda desse mundo

de um tempo

e do que eu me lembrava, era absolutamente de tudo
da forma
do cheiro
da cor.
como arrumava o cabelo, como arrumava a barra do vestido.
como passava batom, como dava o melhor último olhar.
como sorria e jogava a cabeça para trás.
.
não notei grandes mudanças.meu amor era o mesmo, quiça maior.

o que sobrou do sal

esperar o vento neutro,
ir lá fora, adivinhar desenhos nas nuvens
tingir as rosas vermelhas
borrar as cores falsas,
colar as pétalas de uma nova flor. Refazer.
.
no intro-útero,
consumir as paredes, para sangrar a carne
e pôr sal para estancar a dor.
Peneirar as vontades e o obrigatório: para selecionar o que vai ser
filho.
.
separar o que vai ser morto
e o que vai ser mar.
peneirar o mar morto, para separar por quilo, e vender caro para o
salário mínimo.
.
sem o choro da vela, sem a missa.
sem a benção, sem as suas juras poucas.
enterrar o que se decidiu morto,
para
.
chorar no sétimo dia
tentar esquecer no oitavo
apaixonar-se no nono
desapaixonar no décimo.
.
.
.
Pule do décimo primeiro.